Programa do Festival

sábado, 14 de agosto de 2010

A Palavra

A Palavra


Já não quero dicionários

consultados em vão.

Quero só a palavra

que nunca estará neles

nem se pode inventar.



Que resumiria o mundo

e o substituiria.

Mais sol do que o sol,

dentro da qual vivêssemos

todos em comunhão,

mudos,

saboreando-a.



Carlos Drummond de Andrade, in 'A Paixão Medida'

A Palavra

A Palavra


Eleva-se entre a espuma, verde e cristalina

e a alegria aviva-se em redonda ressonância.

O seu olhar é um sonho porque é um sopro indivisível

que reconhece e inventa a pluralidade delicada.

Ao longe e ao perto o horizonte treme entre os seus cílios.



Ela encanta-se. Adere, coincide com o ser mesmo

da coisa nomeada. O rosto da terra se renova.

Ela aflui em círculos desagregando, construindo.

Um ouvido desperta no ouvido, uma língua na língua.

Sobre si enrola o anel nupcial do universo.



O gérmen amadurece no seu corpo nascente.

Nas palavras que diz pulsa o desejo do mundo.

Move-se aqui e agora entre contornos vivos.

Ignora, esquece, sabe, vive ao nível do universo.

Na sua simplicidade terrestre há um ardor soberano.



António Ramos Rosa, in "Volante Verde"

Quanto Sinto, Penso

Quanto Sinto, Penso



Severo narro. Quanto sinto, penso.

Palavras são idéias.

Múrmuro, o rio passa, e o que não passa,

Que é nosso, não do rio.

Assim quisesse o verso: meu e alheio

E por mim mesmo lido.



Ricardo Reis, in "Odes"

Heterónimo de Fernando Pessoa


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Festival da Palavra - parceria UNESP Assis e Poiesis