Programa do Festival

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Poema às Palavras

 Poema às Palavras



Tem uns homens por aí

com medo das palavras.



Tem uns poetas por aí

segregacionistas.



Tem preconceitos contra

as palavras:

esta não serve - é mestiça,

esta também não - é muito comum,

é do povo, não é importante,

e aquela também - não tem educação

fala muito alto, é palavrão.



Tem poeta por aí cochichando

como gente muito fina

de salão,

falando entre-dentes

perpetrando futilidades

e maldades, como comadres.



Tem uns homens por ai

tratando as palavras pela cor

de sua pele:

não cruzam com as palavras, negras

amarelas, mulatas,

só fazem poemas brancos, poemas

puros, poemas arianos, poemas de raça.



Que se danem! Faço filhos

com todas as palavras

basta que elas se entreguem, e me amem

e saiam com o meu verso, à rua

para cantar.

( Poema de J G de Araujo Jorge in "O Poder da Flor" 1a ed.1969 )

Escrever - Graciliano Ramos

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.


Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.

Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."


Graciliano Ramos

Festival da Palavra - parceria UNESP Assis e Poiesis