Poema às Palavras
Tem uns homens por aí
com medo das palavras.
Tem uns poetas por aí
segregacionistas.
Tem preconceitos contra
as palavras:
esta não serve - é mestiça,
esta também não - é muito comum,
é do povo, não é importante,
e aquela também - não tem educação
fala muito alto, é palavrão.
Tem poeta por aí cochichando
como gente muito fina
de salão,
falando entre-dentes
perpetrando futilidades
e maldades, como comadres.
Tem uns homens por ai
tratando as palavras pela cor
de sua pele:
não cruzam com as palavras, negras
amarelas, mulatas,
só fazem poemas brancos, poemas
puros, poemas arianos, poemas de raça.
Que se danem! Faço filhos
com todas as palavras
basta que elas se entreguem, e me amem
e saiam com o meu verso, à rua
para cantar.
( Poema de J G de Araujo Jorge in "O Poder da Flor" 1a ed.1969 )
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