Ninguém pode contar
a história da poesia
só quem tiver memória
da primeira palavra,
que foi sonho, magia,
emoção. A palavra
que se perdeu no tempo
anterior ao conceito,
agora reverbera
como sonho desfeito
em todas as palavras:
rosa, fogo, papel
onde a poesia se escreve,
água, a boca dos mortos
falando a vida breve,
um livro que esquecemos
de abrir, algum momento
de amantes (sem palavra)
quando vem a ilusão
de suspender o tempo,
poesia indo à procura
desse tempo perdido,
se desfazendo em música
de palavras, miragem
do primeiro sentido.
Poemas do Tempo-Luiz Antonio de Figueiredo
A noite se reparte em mais de mil
e uma noites. Cada sono
um sonho diferente,
a noite de quem fica,
a noite de quem parte,
a insônia do doente.
Não se reparte o amor,
o canto,
a amizade,
a morte.
Um de cada vez,
ofertam-se inteiros
a cada um.
Poemas do Tempo-Luiz Antonio de Figueiredo
Pousa, felicidade,
como a luz da manhã,
de leve, sem alarde.
Amanhã será tarde.
Agora, viva a breve
delicadeza
dessa fugacidade.
Poemas do Tempo
Luiz Antonio de Figueiredo