O poema é a voz do inconsciente.(...) Pode ser que a cabeça não entenda, mas o inconsciente entende. porque é a lógica dos sonhos.
E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro.
Amor é algo que não se tem nunca. É evento de graça. Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera.
O Amor tem esse poder mágico de fazer o tempo correr ao contrário
Por que rimos e choramos por aquilo que é fantasia? A Alma é feita com o que não existe, coisa que só os artistas sabem.
O encantamento não está no que se vê. Está no que se imagina.
É maravilhoso esse poder que tem os livros para criar pontes entre pessoas que se amam sem se conhecer.
E percebo que tristeza é isso: estar diante de um espaço onde um dia houve o encontro.
Não basta silêncio de fora. É preciso silêncio de dentro. Ausência de pensamentos. E aí (...) a gente começa a ouvir coisa que não ouvia.
A alma dos poetas está cheia de objetos decrépitos.É é por isso que fazem poesia, para trazê-los de novo à vida.
Toda pérola esconde uma dor no fundo da sua beleza.
Para se escrever sobre a paixão é preciso estar na praia. É só da praia que se pode contemplar o oceano.
Eu mesmo, sempre que um meteoro ilumina os céus (coisa efêmera...), não posso evitar o aparecimento de meu desejo mais profundo.
Talvez seja por isso que os navegadores navegam: porque no perigo e no abismo eles vêem refletida a eternidade.
Sempre fui levado por uma força mais forte que a minha razão à praias com que nunca havia sonhado.Foi assim que me tornei escritor...
O mar de Minas não é o mar. O mar de Minas é no céu, pro mundo olhar pra cima e navegar sem nunca ter um porto onde chegar.
Música é vida interior. E quem tem vida interior jamais está sozinho.
A música clássica dá alegria.Há músicas que dão prazer.Mas a alegria é muito mais que prazer .
Quem ouve as estrelas fica tranquilo.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Palavras de Rubem Alves
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«Hoje estou bêbado de universo» (Giuseppe Ungaretti)
«Acho que sábado é a rosa da semana.» (Clarice Lispector)
«Fazer o poema / é estar em conflito / com o sangue que corre nas veias do mito.» (Francisco Carvalho)
«Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho» (Murilo Mendes) *
«A poesia não é nada senão tempo, ritmo perpetuamente criador.» (Octavio Paz) *
«O nome de uma mulher me delata. / Me dói uma mulher em todo o corpo.» (Jorge Luis Borges) *
«Eu sou o meu próprio escândalo contínuo.» (Murilo Mendes)
«Fique este dia e esta noite comigo e você vai possuir a origem de todos os poemas» (Walt Whitman) *
«Ó palavras desmoralizadas, entretanto salvas, ditas de novo.» (Carlos Drummond de Andrade) *
«Sou poesia. Não sei me traduzir...» (Dante Milano) *
Uma palavra / basta / para acordar os /demônios / que se hospedam / no poema.» (Francisco Carvalho) *
«Ser livre / é com freqüência estar sozinho.» (W.H. Auden)
«Só na morte não somos estrangeiros.» (Eugénio de Andrade)
«As palavras têm rosto: ou de silêncio ou de sangue.» (António Ramos Rosa)
«Os anjos e os poetas são os únicos que não riem dos loucos.» (Mario Quintana)
«Acho que sábado é a rosa da semana.» (Clarice Lispector)
«Fazer o poema / é estar em conflito / com o sangue que corre nas veias do mito.» (Francisco Carvalho)
«Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho» (Murilo Mendes) *
«A poesia não é nada senão tempo, ritmo perpetuamente criador.» (Octavio Paz) *
«O nome de uma mulher me delata. / Me dói uma mulher em todo o corpo.» (Jorge Luis Borges) *
«Eu sou o meu próprio escândalo contínuo.» (Murilo Mendes)
«Fique este dia e esta noite comigo e você vai possuir a origem de todos os poemas» (Walt Whitman) *
«Ó palavras desmoralizadas, entretanto salvas, ditas de novo.» (Carlos Drummond de Andrade) *
«Sou poesia. Não sei me traduzir...» (Dante Milano) *
Uma palavra / basta / para acordar os /demônios / que se hospedam / no poema.» (Francisco Carvalho) *
«Ser livre / é com freqüência estar sozinho.» (W.H. Auden)
«Só na morte não somos estrangeiros.» (Eugénio de Andrade)
«As palavras têm rosto: ou de silêncio ou de sangue.» (António Ramos Rosa)
«Os anjos e os poetas são os únicos que não riem dos loucos.» (Mario Quintana)
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Poética
Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo.
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
.... Entrai, irmãos meus!
Vinícius de Moraes
Definição de poesia - Boris Pasternak
"Um risco maduro de assobio. O trincar do gelo comprimido. A noite, a folha sob o granizo. Rouxinóis num dueto desafio. Um doce ervilhal abandonado A dor do universo numa fava. Fígaro: das estantes e flautas - Geada no canteiro, tombado. Tudo o que para a noite releva Nas funduras da casa de banho, Trazer para o jardim uma estrela Nas palmas úmidas, tiritando. Mormaço: como pranchas na água, Mais raso. Céu de bétulas, turvo. Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo."
A CANÇÃO MAIS RECENTE
O poeta
com a sua lanterna
mágica está sempre
no começo das coisas.
É como a água, eterna-
mente matutina.
Pouco importa a noite
lhe ponha a pena
do silêncio na asa.
Ele tem a manhã
em tudo quanto faça.
Além disso o amanhã
nunca deixará de ter pássa-
ros.
Cassiano Ricardo
«Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz.» (Vladímir Maiakóvski)
As palavras errantes
As palavras não são imóveis como os pilares que
sustentam as pontes estáticas
ou os arranha-céus que acendem as suas luzes na manhã
vertiginosa.
Elas caminham como os ciganos em busca da pátria
nenhuma escondida em todas as pátrias.
Armam suas barracas à beira da estrada mas logo partem
e avançam na escuridão do mundo como os sonâmbulos
ou saltam como os grilos na grama ainda úmida de
orvalho.
Sempre mudam de lugar como os ataúdes nas lojas
funerárias.
Nenhum prego fixa uma palavra na página aberta
na desolação do dia.
Ela pousa no papel como uma borboleta e em seguida voa
e procura um jardim. As palavras são pássaros migratórios
que nos incitam a partir para as montanhas.
São estrelas errantes. São navios.
E eu sou uma palavra: estou sempre andando
no mundo que é caminho.
Ledo Ivo
Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo.
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
.... Entrai, irmãos meus!
Vinícius de Moraes
Definição de poesia - Boris Pasternak
"Um risco maduro de assobio. O trincar do gelo comprimido. A noite, a folha sob o granizo. Rouxinóis num dueto desafio. Um doce ervilhal abandonado A dor do universo numa fava. Fígaro: das estantes e flautas - Geada no canteiro, tombado. Tudo o que para a noite releva Nas funduras da casa de banho, Trazer para o jardim uma estrela Nas palmas úmidas, tiritando. Mormaço: como pranchas na água, Mais raso. Céu de bétulas, turvo. Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo."
A CANÇÃO MAIS RECENTE
O poeta
com a sua lanterna
mágica está sempre
no começo das coisas.
É como a água, eterna-
mente matutina.
Pouco importa a noite
lhe ponha a pena
do silêncio na asa.
Ele tem a manhã
em tudo quanto faça.
Além disso o amanhã
nunca deixará de ter pássa-
ros.
Cassiano Ricardo
«Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz.» (Vladímir Maiakóvski)
As palavras errantes
As palavras não são imóveis como os pilares que
sustentam as pontes estáticas
ou os arranha-céus que acendem as suas luzes na manhã
vertiginosa.
Elas caminham como os ciganos em busca da pátria
nenhuma escondida em todas as pátrias.
Armam suas barracas à beira da estrada mas logo partem
e avançam na escuridão do mundo como os sonâmbulos
ou saltam como os grilos na grama ainda úmida de
orvalho.
Sempre mudam de lugar como os ataúdes nas lojas
funerárias.
Nenhum prego fixa uma palavra na página aberta
na desolação do dia.
Ela pousa no papel como uma borboleta e em seguida voa
e procura um jardim. As palavras são pássaros migratórios
que nos incitam a partir para as montanhas.
São estrelas errantes. São navios.
E eu sou uma palavra: estou sempre andando
no mundo que é caminho.
Ledo Ivo
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Notícias do Festival
Realizaremos na UNESP de Assis nos dias 16 e 17 de setembro o Festival da Palavra. Este festival será uma parceria da UNESP e da Organização Social Poiesis. Faremos uma bela programação trabalhando com o tema Palavra em linguagem culta ou tensa e linguagem popular ou distensa. Na parte da manhã teremos debates e na parte da tarde e noite várias apresentações artísticas. Com espetáculos com a poesia de Manuel Bandeira e Vinicius de Moraes, a prosa poética de Guimarães Rosa, com a apresentação do poeta Antônio Lázaro de Almeida Prado no recital poético musical "Chama Poética: Alegria de ser", também um recital com a poesia de Frederico Barbosa e um recital com poemas sobre a palavra. Além desta programação, teremos ainda os espetáculos: 'Piaf" e "Chaplin", a apresentação do curta Sete dias em Burquina seguida de discussão do filme com Carlinhos Antunes e os shows dos grupos A Quatro vozes, do grupo Voz, de Kleber Albuquerque& mini orkestra de polka punk e de Carlinhos Antunes e quarteto. Contamos com a participação de Frederico Barbosa, de Antonio Carlos Sartini (diretor do Museu da Língua Portuguesa), da poetisa e professora da UNESP de SJ do Rio Preto Suzanna Busato, além dos músicos assisenses e dos professores da UNESP de Assis também os músicos e atores paulistanos: Alex Dias, Jean Garfunkel, Myrtes Aguiar, Guca Domenico, Priscila Lavorato, Irineu de Palmira, Lula Barbosa. Idealização de Sergio Vasconcelos, Frederico Barbosa e Fernanda de Almeida Prado.
Vejam a programação completa aqui no blog
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Tema do Festival - Édith Piaf
Biografia
Édith Giovanna Gassion, mais conhecida como Édith Piaf, (Paris, 19 de dezembro de 1915 - Grasse, 10 de outubro de 1963) foi uma cantora francesa reconhecida internacionalmente pelo seu talento no estilo francês da chanson.
Edith Giovanna Gassion nasceu na Belleville, Paris (um bairro de imigrantes). Sua mãe Annetta Giovanna Maillard, era de ascendência italiana e cantava em café com o pseudônimo de Line Marsa. Seu pai Louis-Alphonse Gassion era acrobata de rua e tinha um passado teatral. Quando pequena Edith, foi deixada por um curto período com a avó materna, pouco depois seu pai a buscou entregando a mãe e foi servir o Exército Francês (em 1916). A mãe na época trabalhava em um bordel, o que fez com que Edith tivesse contato com prostitutas e seus clientes, o que ocasionou nela um profundo impacto em sua personalidade e visão sobre a vida.
Em 1929, Edith começou a cantar e se junta ao pai em suas acrobacias de rua. Não demorou muito ela já estava cantando pelas ruas sozinha. Aos dezesseis anos, Edith se apaixonou por Louis Dupont com quem teve uma filha, Marcelle, que morreu logo depois de meningite.
Após tentar inutilmente mostrar seu trabalho a algumas gravadoras e editoras, em 1935 ela conhece Louis Leplée, gerente do cabaret Le Gerny’s, situado na avenida Champs Élysées, em Paris. Foi ele quem a iniciou na vida artística e a batizou “Piaf” - passarinho. No ano seguinte ela assina contrato com a Polydor e lança seu primeiro disco Les Mômes de la cloche.
Em 1940, Jean Cocteau escreveu a peça Le Bel Indifférent para Piaf. Edith também começa a escrever canções. Durante a ocupação alemã em Paris na época da segunda guerra mundial, ela escreveu seu maior sucesso “La vie en Rose”. Em 1951, ela sofreu um acidente de carro que a torna dependente de morfina.
Durante os anos 50, ela excursionou pela Europa, Estados Unidos e América do Sul tornando-se internacionalmente conhecida. Sua popularidade nos Estados Unidos era tão grande que ela apareceu oito vezes no programa de televisão de Ed Sullivan entre 1956 e 1957. E em 1956, ela se apresentou no Carnegie Hall de Nova York.
Édith Piaf está enterrada na mais célebre necrópole parisiense, o cemitério do Père-Lachaise. Seu sepultamento foi acompanhado por uma multidão poucas vezes vista na capital francesa. Hoje, seu túmulo é um dos mais visitados por turistas do mundo inteiro.
Fontes
pt.wikipedia.org/Édith_Piaf
Museu da Língua Portuguesa - Chama Poética - França - Brasil
http://www.youtube.com/watch?v=28AQX0ogoJA
Priscila Lavorato & Pedro Mattana - Edith Piaf - La Vien Rose
Priscila Lavorato & Pedro Mattana - Edith Piaf - L´Hymne a L´Amour
http://www.youtube.com/watch?v=ezR4j8TE14s&feature=related
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Palavras de Graciliano Ramos
Graciliano Ramos sobre a arte de escrever
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Graciliano Ramos
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Graciliano Ramos
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Palavras de Cecília Meireles
Vôo
Alheias e nossas as palavras voam.
Bando de borboletas multicores, as palavras voam
Bando azul de andorinhas, bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.
Viam as palavras como águias imensas.
Como escuros morcegos como negros abutres, as palavras voam.
Oh! alto e baixo em círculos e retas acima de nós, em redor de nós as
palavras voam.
E às vezes pousam.
Cecília Meireles
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Cecília Meireles
Numa noite de lua escreverei palavras
Numa noite de lua escreverei palavras,
simples palavras tão certas
que hão de voar para longe, com as asas súbitas,
e pousar nessas torres das mudas vidas inquietas.
O luar que esteve nos meus olhos, uma noite,
nascera de novo no mundo.
Outra vez brilhará, livre de nuvens e telhados
livre de pálpebras, e num país sem muros.
Por esse luar formado em minhas mãos, e eterno,
é doce caminhar, viver o que se vive.
Porque a noite é tão grande... Ah,quem faz tanta noite?
E estar próximo é tão impossível
Cecília Meireles
Canção da Alta Noite
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.
Porque o poeta, indiferente,
andar por andar - somente.
Não necessita de nada.
Cecília Meireles
Timidez
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos nocturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
ate' não se sabe quando...
- e um dia me acabarei.
Cecília Meireles
Uma pequena aldeia
No canto do galo há uma pequena aldeia
de mulheres risonhas e pobres
que trabalham em casas de pedra
com belos braços brancos
e olhos cor de lágrima
São umas corajosas mulheres
que tecem em teares antigos,
são Penélopes obscuras
em suas casas de pedra
com fogões de pedra
nestes tempos de pedra.
Elas, porém, cantam com frescura,
a leveza, a graça, a alegria generosa
da água das cascatas,
que corre de dentro do mundo
pelo mundo
para fora do mundo.
No canto do galo há, de repente,
essa pequena aldeia,
com essas belas mulheres,
essas boas mulheres escondidas,
essas criaturas lendárias
que trabalham e cantam
e morrem.
O amor é uma roseira à sua porta,
o sonho é um barco no mar
a vida é uma brasa na lareira
um pano que nasce, fio a fio.
A morte é um dia santo
para sempre no céu.
Cecília Meireles
Alheias e nossas as palavras voam.
Bando de borboletas multicores, as palavras voam
Bando azul de andorinhas, bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.
Viam as palavras como águias imensas.
Como escuros morcegos como negros abutres, as palavras voam.
Oh! alto e baixo em círculos e retas acima de nós, em redor de nós as
palavras voam.
E às vezes pousam.
Cecília Meireles
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Cecília Meireles
Numa noite de lua escreverei palavras
Numa noite de lua escreverei palavras,
simples palavras tão certas
que hão de voar para longe, com as asas súbitas,
e pousar nessas torres das mudas vidas inquietas.
O luar que esteve nos meus olhos, uma noite,
nascera de novo no mundo.
Outra vez brilhará, livre de nuvens e telhados
livre de pálpebras, e num país sem muros.
Por esse luar formado em minhas mãos, e eterno,
é doce caminhar, viver o que se vive.
Porque a noite é tão grande... Ah,quem faz tanta noite?
E estar próximo é tão impossível
Cecília Meireles
Canção da Alta Noite
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.
Porque o poeta, indiferente,
andar por andar - somente.
Não necessita de nada.
Cecília Meireles
Timidez
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos nocturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
ate' não se sabe quando...
- e um dia me acabarei.
Cecília Meireles
Uma pequena aldeia
No canto do galo há uma pequena aldeia
de mulheres risonhas e pobres
que trabalham em casas de pedra
com belos braços brancos
e olhos cor de lágrima
São umas corajosas mulheres
que tecem em teares antigos,
são Penélopes obscuras
em suas casas de pedra
com fogões de pedra
nestes tempos de pedra.
Elas, porém, cantam com frescura,
a leveza, a graça, a alegria generosa
da água das cascatas,
que corre de dentro do mundo
pelo mundo
para fora do mundo.
No canto do galo há, de repente,
essa pequena aldeia,
com essas belas mulheres,
essas boas mulheres escondidas,
essas criaturas lendárias
que trabalham e cantam
e morrem.
O amor é uma roseira à sua porta,
o sonho é um barco no mar
a vida é uma brasa na lareira
um pano que nasce, fio a fio.
A morte é um dia santo
para sempre no céu.
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Procura da poesia
Procura da poesia
Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. Não faças poesia com o corpo, esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica. Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro são indiferentes. Nem me reveles teus sentimentos, que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem. O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz. O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas. Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma. O canto não é a natureza nem os homens em sociedade. Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam. A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques, não indagues. Não percas tempo em mentir. Não te aborreças. Teu iate de marfim, teu sapato de diamante, vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas tua sepultada e merencória infância. Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação. Que se dissipou, não era poesia. Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. Espera que cada um se realize e consuma com seu poder de palavra e seu poder de silêncio. Não forces o poema a desprender-se do limbo. Não colhas no chão o poema que se perdeu. Não adules o poema. Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?
Repara: ermas de melodia e conceito elas se refugiaram na noite, as palavras. Ainda úmidas e impregnadas de sono, rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Obra completa. 2. ed. Rio de Janeiro, Aguilar, 1967.)
Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. Não faças poesia com o corpo, esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica. Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro são indiferentes. Nem me reveles teus sentimentos, que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem. O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz. O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas. Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma. O canto não é a natureza nem os homens em sociedade. Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam. A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques, não indagues. Não percas tempo em mentir. Não te aborreças. Teu iate de marfim, teu sapato de diamante, vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas tua sepultada e merencória infância. Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação. Que se dissipou, não era poesia. Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. Espera que cada um se realize e consuma com seu poder de palavra e seu poder de silêncio. Não forces o poema a desprender-se do limbo. Não colhas no chão o poema que se perdeu. Não adules o poema. Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?
Repara: ermas de melodia e conceito elas se refugiaram na noite, as palavras. Ainda úmidas e impregnadas de sono, rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Obra completa. 2. ed. Rio de Janeiro, Aguilar, 1967.)
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Poiesis
Poiesis é uma palavra de origem grega que significou inicialmente criação, ação, confecção, fabricação e depois terminou por significar arte da poesia e faculdade poética.
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Palavras de Manoel de Barros
"É pelo beijo que o amor se edifica. É no calor da boca que o alarme de carne grita."
"Se comunica por encantamentos. E por não ser contaminada de contradições, a linguagem dos pássaros só produz gorjeios."
"A hera veste meus princípios e meus óculos."
"A primavera está por um trevo!"
"A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos."
"Só as palavras não foram castigadas com a ordem natural das coisas. As palavras continuam com os seus deslimites."
"Tem mais presença em mim o que me falta."
"Falar a partir de ninguém. Ensina a ver o sexo das nuvens. E ensina o sentido sonoro das palavras."
"Tenho uma confisão: noventa por cento do que escrevo é invenção; só dez por cento que é mentira."
"Toda frase que se faz é preciso gozar nela. E é preciso fazer o serviço com paciência para que o gozo dê frutos."
"Ontem choveu no futuro."
"A palavra amor anda vazia. Não tem gente dentro dela."
"Sou hoje um caçador de achadouros da infância."
"Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão."
"Eu sou meu estandarte pessoal. Preciso do desperdício das palavras para conter-me."
"A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem. Nos encantos de um sabiá."
"E agora que fazer com esta manhã desabrochada a pássaros?"
"Estou sem eternidades."
"Sem chuvas, já reparei, as andorinhas perdem o poder de voar livres."
"Uma violeta me pensou. Me encostei no azul de sua tarde."
"Nas brisas vem sempre um silêncio de garças."
"Escutei um perfume de sol nas águas."
"É no ínfimo que vejo a exuberância."
"Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou."
"Sou livre para o silêncio das formas e das cores."
"Sou formado em desencontros."
"O mundo não foi feito em alfabeto. Senão que primeiro em água e luz. Depois árvore. Depois lagartixas."
"Os delírios verbais me terapeutam."
"Palavras que me aceitam como sou, eu não aceito."
"Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças."
"Sou um sujeito cheio de recantos. Os desvãos me constam. Tem hora leio avencas. Tem hora, Proust. Ouço aves e beethovens."
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos. Outras de palavras. Poetas e tontos se compõem com palavras."
"Se comunica por encantamentos. E por não ser contaminada de contradições, a linguagem dos pássaros só produz gorjeios."
"A hera veste meus princípios e meus óculos."
"A primavera está por um trevo!"
"A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos."
"Só as palavras não foram castigadas com a ordem natural das coisas. As palavras continuam com os seus deslimites."
"Tem mais presença em mim o que me falta."
"Falar a partir de ninguém. Ensina a ver o sexo das nuvens. E ensina o sentido sonoro das palavras."
"Tenho uma confisão: noventa por cento do que escrevo é invenção; só dez por cento que é mentira."
"Toda frase que se faz é preciso gozar nela. E é preciso fazer o serviço com paciência para que o gozo dê frutos."
"Ontem choveu no futuro."
"A palavra amor anda vazia. Não tem gente dentro dela."
"Sou hoje um caçador de achadouros da infância."
"Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão."
"Eu sou meu estandarte pessoal. Preciso do desperdício das palavras para conter-me."
"A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem. Nos encantos de um sabiá."
"E agora que fazer com esta manhã desabrochada a pássaros?"
"Estou sem eternidades."
"Sem chuvas, já reparei, as andorinhas perdem o poder de voar livres."
"Uma violeta me pensou. Me encostei no azul de sua tarde."
"Nas brisas vem sempre um silêncio de garças."
"Escutei um perfume de sol nas águas."
"É no ínfimo que vejo a exuberância."
"Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou."
"Sou livre para o silêncio das formas e das cores."
"Sou formado em desencontros."
"O mundo não foi feito em alfabeto. Senão que primeiro em água e luz. Depois árvore. Depois lagartixas."
"Os delírios verbais me terapeutam."
"Palavras que me aceitam como sou, eu não aceito."
"Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças."
"Sou um sujeito cheio de recantos. Os desvãos me constam. Tem hora leio avencas. Tem hora, Proust. Ouço aves e beethovens."
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos. Outras de palavras. Poetas e tontos se compõem com palavras."
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FESTIVAL DA PALAVRA
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Palavras de amor
O Verbo No Infinito
Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer de tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
Vinícius de Moraes
Terror de te amar num sítio tao frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeiçao
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Dois corpos
Dois corpos face a face
São ás vezes duas ondas
E a noite é um oceano.
Dois corpos face a face
São ás vezes duas pedras
E a noite um deserto.
Dois corpos face a face
São ás vezes qual raízes
Dentro da noite enlaçadas.
Dois corpos face a face
São ás vezes qual navalhas
E a noite um relâmpago.
Dois corpos face a face
São dois astros caindo
Num céu que está vazio.
Octávio Paz
Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andrese
Se tanto me dói que as coisas passem…
Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na luta por um bem definitivo
Em que as coisas de amor se eternizassem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Canção da falsa adormecida
Se te pareço ausente, não creias:
Hora a hora o meu amor agarra-se aos teus braços,
Hora a hora o meu desejo revolve estes escombros
E escorrem dos meus olhos mais promessas.
Não acredites neste breve sono;
Não dês valor maior ao meu silêncio;
E se leres recados numa folha branca,
Não creias também: é preciso encostar
Teus lábios em meus lábios para ouvir.
Nem acredites se pensas que te falo:
Palavras
São o meu jeito mais secreto de calar.
Lya Luft
Amor e Seu Tempo
Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.
Carlos Drummond de Andrade
Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer de tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
Vinícius de Moraes
Terror de te amar num sítio tao frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeiçao
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Dois corpos
Dois corpos face a face
São ás vezes duas ondas
E a noite é um oceano.
Dois corpos face a face
São ás vezes duas pedras
E a noite um deserto.
Dois corpos face a face
São ás vezes qual raízes
Dentro da noite enlaçadas.
Dois corpos face a face
São ás vezes qual navalhas
E a noite um relâmpago.
Dois corpos face a face
São dois astros caindo
Num céu que está vazio.
Octávio Paz
Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andrese
Se tanto me dói que as coisas passem…
Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na luta por um bem definitivo
Em que as coisas de amor se eternizassem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Canção da falsa adormecida
Se te pareço ausente, não creias:
Hora a hora o meu amor agarra-se aos teus braços,
Hora a hora o meu desejo revolve estes escombros
E escorrem dos meus olhos mais promessas.
Não acredites neste breve sono;
Não dês valor maior ao meu silêncio;
E se leres recados numa folha branca,
Não creias também: é preciso encostar
Teus lábios em meus lábios para ouvir.
Nem acredites se pensas que te falo:
Palavras
São o meu jeito mais secreto de calar.
Lya Luft
Amor e Seu Tempo
Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.
Carlos Drummond de Andrade
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