Programa do Festival

domingo, 15 de agosto de 2010

Entre o que vejo e o que digo...

Entre o que vejo e o que digo...

                                        A Roman Jakobson
        Traduzido por Anderson Braga Horta


Entre o que vejo e o que digo,

entre o que digo e o que calo,

entre o que calo e o que sonho,

entre o que sonho e o que esqueço,

a poesia.

Desliza

entre o sim e o não:

diz

o que calo,

cala

o que digo,

sonha

o que esqueço.

Não é um dizer:

é um fazer.

É um fazer

que é um dizer.

A poesia

se diz e se ouve:

é real.

E, apenas digo

é real,

se dissipa.

Será assim mais real?

2

Idéia palpável,

palavra

impalpável:

a poesia

vai e vem

entre o que é

e o que não é.

Tece reflexos

e os destece.

A poesia

semeia olhos na página,

semeia palavras nos olhos.

Os olhos falam,

as palavras olham,

os olhares pensam.

Ouvir

os pensamentos,

ver

o que dizemos,

tocar

o corpo da idéia.

Os olhos

se fecham,

as palavras se abrem´.



Octavio Paz

OCTAVIO PAZ (1914–1998) — Mexicano. Prêmio Nobel de Literatura em 1991. Importante ensaísta e conferencista (El Laberinto de la Soledad, El Arco y la Lira, El Mono Gramático, Los Hijos del Limo, Sor Juana Inés de la Cruz o las Trampas de la Fe). Alguns livros de poesia: Piedra de Sol, Salamandra, Blanco, Vuelta, Árbol Adentro.

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