Programa do Festival

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Temas do Festival - Guimarães Rosa




Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.


O mundo é mágico.

As pessoas não morrem, ficam encantadas.

Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.

“O senhor… mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão."

Quando nada acontece há um grande milagre acontecendo que não estamos vendo.


PÍLULAS DO GRANDE SERTÃO


Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar.

No sistema de jagunços, amigo era o braço, e o aço!

Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou — amigo — é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é.

Coração de gente — o escuro, escuros.

O amor? Pássaro que põe ovos de ferro.

Quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.


"A estrada do amor, a gente já esta mesmo nela, desde que não pergunte por direção nem destino.E a casa do amor-em cuja porta não se chama e não se espera-fica um pouco mais adiante." (Sagarana)



Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.

A colheita é comum, mas o capinar é sozinho.

O diabo é às brutas; mas Deus é traiçoeiro!

O diabo na rua, no meio do redemunho.


O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos... Pois, não existe! E se não existe, como é que se pode se contratar pacto com ele?

Quem muito se evita, se convive.


Julgamento é sempre defeituoso, porque o que a gente julga é o passado.


O que lembro, tenho.


Quem mói no asp'ro não fantaseia.


Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente.


Vingar... é lamber, frio, o que outro cozinhou quente demais.


Quem sabe do orgulho, quem sabe da loucura alheia?


Ser chefe — por fora um pouquinho amargo; mas, por dentro, é risonhas flores.

Um chefe carece de saber é aquilo que ele não pergunta.

Comandar é só assim: ficar quieto e ter mais coragem.


Toda saudade é uma espécie de velhice.

Riu de me dar nojo. Mas nojo medo é, é não?

Um sentir é do sentente, mas outro é do sentidor.


Tudo é e não é.


Mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir.

Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!

O sertão é do tamanho do mundo.

Sertão é dentro da gente.

O sertão é sem lugar.

O sertão não tem janelas, nem portas. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa.

O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém, se esconde e acena.

O sertão é uma espera enorme.



“Quando escrevo, repito o que já vivi antes.


E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.

Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo

vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser

um crocodilo porque amo os grandes rios,

pois são profundos como a alma de um homem.

Na superfície são muito vivazes e claros,

mas nas profundezas são tranqüilos e escuros

como o sofrimento dos homens.”



“Em meus textos.

quero chocar o leitor,

não deixar que ele repouse

na bengala dos lugares-comuns,

das expressões acostumadas

e domesticadas.

Quero obrigá-lo a sentir

uma novidade nas palavras.”



JOÃO GUIMARÃES ROSA

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Festival da Palavra - parceria UNESP Assis e Poiesis