Programa do Festival

domingo, 29 de maio de 2011

Poemas de amor



Nem sabe porque ama, nem o que é amar


Amar é a eterna inocência,

E a única inocência, não pensar...

Fernando Pessoa

Amar é ter um pássaro pousado no dedo.

Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,

a qualquer momento, ele pode voar”

Rubem Alves


Ao Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,

não de cultivo alheio ou de presença.

Nada exige nem pede. Nada espera,

mas do destino vão nega a sentença.


O amor antigo tem raízes fundas,

feitas de sofrimento e de beleza.

Por aquelas mergulha no infinito,

e por estas suplanta a natureza.


Se em toda parte o tempo desmorona

aquilo que foi grande e deslumbrante,

a antigo amor, porém, nunca fenece

e a cada dia surge mais amante.


Mais ardente, mas pobre de esperança.

Mais triste? Não. Ele venceu a dor,

e resplandece no seu canto obscuro,

tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade



O amor sonha com a pureza

sexo precisa do pecado

o amor é sonho dos solteiros

sexo é sonho dos casados

Arnaldo Jabor



Se sou amado,

quanto mais amado

mais correspondo ao amor.

Se sou esquecido,

devo esquecer também,

Pois amor é feito espelho:

-tem que ter reflexo.

Pablo Neruda



Amor é bicho instruído

Olha: o amor pulou o muro

o amor subiu na árvore

em tempo de se estrepar.

Pronto, o amor se estrepou.

Daqui estou vendo o sangue

que escorre do corpo andrógino.

Essa ferida, meu bem

às vezes não sara nunca

às vezes sara amanhã.

Carlos Drummond de Andrade



SONETO DO AMOR MAIOR

Maior amor nem mais estranho existe

Que o meu, que não sossega a coisa amada

E quando a sente alegre, fica triste

E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste

O amado coração, e que se agrada

Mais da eterna aventura em que persiste

Que de uma vida mal aventurada.


Louco amor meu, que quando toca, fere

E quando fere vibra, mas prefere

Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante

Desassombrado, doido, delirante

Numa paixão de tudo e de si mesmo.

Vinícius de Moraes



Toada do Amor

E o amor sempre nessa toada!

briga perdoa perdoa briga.

Não se deve xingar a vida,

a gente vive, depois esquece.

Só o amor volta para brigar,

para perdoar,

amor cachorro bandido trem.


Mas, se não fosse ele, também

que graça que a vida tinha?

Mariquita, dá cá o pito,

no teu pito está o infinito.

Carlos Drummond de Andrade



BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados

Deixa em paz os passarinhos

Deixa em paz a mim!

Se me queres,

enfim,

tem de ser bem devagarinho, Amada,

que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mário Quintana



De Longe Te Hei-de Amar


De longe te hei-de amar

- da tranquila distância

em que o amor é saudade

e o desejo, constância.

Do divino lugar

onde o bem da existência

é ser eternidade

e parecer ausência.

Quem precisa explicar

o momento e a fragrância

da Rosa, que persuade

sem nenhuma arrogância?


E, no fundo do mar,

a Estrela, sem violência,

cumpre a sua verdade,

alheia à transparência.


Cecília Meireles



Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.

Mas porque a amo, e amo-a por isso,

Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem por que ama, nem o que é amar...

Alberto Caeiro





O verbo no infinito

Ser criado, gerar-se, transformar

O amor em carne e a carne em amor; nascer

Respirar, e chorar, e adormecer

E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar

Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir

E começar a amar e então sorrir

E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver

E perder, e sofrer, e ter horror

De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer de tudo ao vir um novo amor

E viver esse amor até morrer

E ir conjugar o verbo no infinito...

Vinicius de Moraes



Amo-te tanto, meu amor...não cante

O humano coração com mais verdade...

Amo-te como amigo e como amante

Nunca, sempre diversa realidade.


Amo-te afim, de um calmo amor prestante,

E te amo além, presente na saudade.

Amo-te, enfim, com grande liberdade

Dentro da eternidade e a cada instante.


Amo-te como um bicho, simplesmente

De um amor sem mistério e sem virtude

Com um desejo maciço e permanente.


E de amar assim muito amiúde

É que um dia em teu corpo de repente

Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Moraes



Busque Amor novas artes, novo engenho,

para matar me, e novas esquivanças;

que não pode tirar me as esperanças,

que mal me tirará o que eu não tenho.


Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Que não temo contrastes nem mudanças,

andando em bravo mar, perdido o lenho.


Mas, conquanto não pode haver desgosto

onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal, que mata e não se vê.


Que dias há que n'alma me tem posto

um não sei quê, que nasce não sei onde,

vem não sei como, e dói não sei porquê.

Luis de Camões



Mas há a vida


Mas há a vida

que é para ser

intensamente vivida,

há o amor.

Que tem que ser vivido

até a última gota.

Sem nenhum medo.

Não mata.

Clarice Lispector

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